Criação:
Eu NÃO cREIo
Eu cRIO
MEUs RECrEIOs.
(Juliano Beck)
· Comentário:
Trata-se de um hai-kai. O hai-kai (俳句) é um poema de origem japonesa. Constitui-se de três versos que, tradicionalmente constam de dezessete sílabas, sendo cinco sílabas no primeiro verso, sete no seguinte e cinco no último. Ao fazer um hai-kai em português não é necessário obedecer ao número de sílabas, porém é aconselhável seguir a estrutura semântica do poema, ou seja, no primeiro verso procura-se dar um sentido de imutabilidade ou eternidade, no segundo uma idéia de mutabilidade, algo como um fenômeno. Já o último verso é a síntese dos dois primeiros.
O hai-kai é uma composição simples e objetiva. Neste hai-kai o autor se valeu também da aliteração e da rima para enriquecer o poema, apenas acrescentando ou subtraindo algumas letras nos vocábulos. Podemos verificar a influência concretista que se faz presente por meio da alternância entre letras maiúsculas e minúsculas, assim como pela variação dos matizes.
· Interpretação:
Este poema exprime, à primeira vista, concomitante a negação da crença, e intrinsecamente a ela, um sentimento existencialista. O ser que não crê na metafísica, e por isso julga-se o próprio criador de seus experimentos. Experimentos estes que adjetiva como recreios, divertimentos ou prazeres, sugerindo assim uma interpretação hedonista da vida. Notamos o cuidado que teve o autor em afirmar a negação como uma idiossincrasia convicta ao demonstrá-la no primeiro verso, para retomá-la mais adiante na forma de ceticismo, como veremos mediante outras variações hermenêuticas. O segundo verso expressa o fenômeno da criação e a mutabilidade da arte de criar. Continuando com a estrutura de significação dos versos, o último sintetiza os que o precedem.
Ao analisarmos por outro prisma, destacam-se os caracteres maiúsculos do poema, sugerindo novas interpretações. O primeiro verso continua como a recusa, não se restringindo apenas à metafísica, mas a todo tipo de hierarquia, destacando-se, além do advérbio de negação, a palavra REI, como arquétipo das relações de poder. Supondo-se estar o autor divagando sobre literatura, o poeta, deste modo, nega sua condição de súdito dos vocábulos, colocando-se em seguida como o fecundador das possibilidades semânticas, forjando conotações diversas. Mas volta a colocar isto em dúvida pela própria mutabilidade do segundo verso, onde destaca a palavra RIO, como sinônimo das coisas inconstantes, variáveis e passageiras. O poema fica às margens da poesia. O poema é terra firme. A poesia transfigura-se incessantemente, desaguando na foz das interpretações. Porém a transitoriedade do RIO é tanta, que ele pode não ser um substantivo, declamando-se desdenhosamente como um verbo na primeira pessoa do singular. Tal riso desdenhoso se mostra um tanto nervoso no verso seguinte, onde não demonstra a mesma autoconfiança de outrora. Destaca-se no derradeiro verso algo que pode ser encarado não como uma confissão, mas como uma dúvida sistemática, MEU RECEIO.
Evidencia-se também a estética cambiante dos versos. O primeiro, como exposição da negação, não é merecedor de gradação alguma na coloração. Já o segundo verso, que expressa a afirmação da criação simultânea ao riso, destaca-se em tom escarlate (o que lhe é muito apropriado) a palavra cio, como um prelúdio da origem da vida. Na última linha, como a consumação do ato de criar, salientam-se em vermelho as letras que fazem referência ao deus do amor, Eros. Isto nos remete dialeticamente ao primeiro verso outra vez.
mano fiz bem em te convidar, sem dúvidas vc é um escritor trilegal. Gosto muito dos seus textos. Paz e bem e vamos movimentar isto daqui!
ResponderExcluiradoro hai-kai..um dia vou me aventurar a fazer um....
ResponderExcluirjuliano,
nesses três versos viajei muito....
só n sei explicar com palavras o que sinto...
ah,sim!
isso é poesia...
e poesia a gnt sente....e eu estou sentindo aqui....
bj!
amei!
PERFEITO.
ResponderExcluirSimples assim.
Bjãooooo Juliano!!!!!
Acredito que poemas perdem o mistério (o que há de mais fascinante nos poemas em minha opinião) que os cerca, quando são explicados...
ResponderExcluirPor outro lado, é interessate saber a origem deles...
Sigo os seus passos e fico por aqui...
Abraço!
Lendo, vivendo, e aqui, aprendendo...
ResponderExcluirTe sigo, Juliano.
Beijos.
Seguindo e fugindo
ResponderExcluireternamente.
E claro, isso mostra um pouco do sentir(do) da vida..
Quero um poema de aniversário...tá chegando!